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A primeira vez que entrei em uma sala de aula como educador foi em uma turma de Educação de Jovens e Adultos. À época, nos meses iniciais do ano de 2008, havia sido selecionado para ser educador bolsista de um programa da Sociedade Marista, o Centro Marista de Educação e Cidadania (CEMEC). Eu havia iniciado o terceiro semestre do curso de História na Universidade Federal de Minas Gerais e fui desafiado a, pela primeira vez, lecionar a matéria que eu cursava. Os educandos eram moradores da periferia de Belo Horizonte que almejavam entrar em uma universidade via aprovação por exame de vestibular exigido à época. Lecionei em três escolas públicas, nos aglomerados Morro das Pedras e Ventosa e no bairro Primeiro de Maio, pelo programa CEMEC. As escolas da Prefeitura de Belo Horizonte cediam o espaço físico das instituições no horário noturno de funcionamento, enquanto o Marista arcava com os custos dos professores. Essa experiência formou-me como educador, pois, sem dúvida, foi ali que aprendi a organizar e planejar uma aula. Digo dessa maneira, pois foi nessa experiência que aprendi com as formações continuadas oferecidas pelo CEMEC a importância dos planejamentos, dos preparos e das metodologias para uso em espaço escolar. Enquanto lecionava as matérias curriculares que aprendia na faculdade, aquelas mulheres (maioria no ambiente escolar em que eu lecionava) e homens ensinavam-me um pouco de tudo, mas, em específico, como devem ocorrer as relações interpessoais em uma sala de aula. Após passar o ano inteiro de 2008 na experiência de sala de aula ofertada pelo CEMEC, em 2009, fui aprovado para o Programa de Extensão da Educação de Jovens e Adultos da UFMG (PROEF 2). O programa concedia bolsas para que os alunos da graduação ministrassem aulas para jovens e adultos que queriam concluir o Ensino Fundamental dentro do espaço oferecido pelo Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica (CP) da Universidade, ao mesmo tempo em que nós, alunos da graduação, éramos formados pelos professores da Faculdade de Educação (FaE) que faziam um acompanhamento orientado das atividades realizadas. Entrei nesse projeto como educador de História. É tarefa difícil descrever a importância desse projeto na minha formação profissional e pessoal. Tanto os educandos quanto os educadores universitários com quem trabalhei, nos anos de 2009 e 2010 do projeto, moldaram o que sou hoje como profissional e como pessoa. Não tenho palavras suficientes para agradecê-los por tudo o que fizeram. Foi durante esse projeto de extensão universitária que iniciei minhas pesquisas na área de Educação de Jovens e Adultos. Realizei como coautor a publicação de artigo sobre os processos de formação dos educadores de História na EJA na extensão universitária da UFMG 18 no primeiro Seminário de Educação de Jovens e Adultos (SEEJA), realizado pelo Núcleo de Educação de Adultos da PUC-Rio (NEAD) e a apresentação de pôster sobre a formação de educadores de História em EJA no PROEF2 da UFMG. Foi também inspirado nas histórias que ouvia dos meus alunos de EJA e pela invisibilidade social de muitas daquelas vidas com quem convivi que, em 2009, iniciei o texto do meu primeiro livro de literatura filosófica – Óculos escuros, em2014, pela Editora Novo Século. Na transição de 2010 para 2011, outra experiência possibilitou-me um contato muito direto com a Educação de Jovens e Adultos. Passei em um concurso público da Prefeitura de Belo Horizonte para o cargo de auxiliar de biblioteca e fui locado no período noturno da Escola Municipal Maria Assunção de Marco. Dentro da biblioteca pude ver um lado dos estudantes de EJA que eu não conhecia: a paixão pelos livros. Como educador, e ainda preso em certos preconceitos sobre educação e sobre os sujeitos da EJA, pensava que aqueles estudantes não dedicariam tempo à leitura por falta de interesse ou tempo. Como auxiliar de biblioteca, percebi que os estudantes apenas não estavam instrumentalizados para o acesso à leitura. Mostrado o caminho, eles não apenas liam, mas liam compulsivamente. Fiquei apenas seis meses no cargo, mas auxiliar os educandos de EJA a encontrarem o(s) livro(s) adequado(s) para cada um de seus interesses descortinou minha visão sobre essa modalidade de educação. Ainda tive uma excelente oportunidade para auxiliar na formação de professores na EJA, na virada de 2010 para 2011. A convite dos professores organizadores da especialização em EJA promovida pela FaE, ministrei uma oficina sobre o uso de jogos de interação como o Rolling Play Game (RPG) em Educação de Jovens e Adultos dentro da disciplina Saberes Históricos na EJA, no curso de Pós-Graduação Especialização Lato Sensu em Docência da Educação de Jovens e Adultos na Educação Básica: Juventudes Presentes na EJA (ESPECEJJA), da FaE. Concomitantemente ao que foi narrado até aqui, no ano de 2009, me tornei bolsista monitor de História do Pré-Vestibular Mais. As experiências que narro a partir daqui são importantes para o entendimento de por que, tendo me formado, primeiramente, em História e lecionado a matéria para jovens e adultos, realizei a travessia, e migrei para a prática e a pesquisa em outra área afim das humanidades: a Filosofia. Nesse mesmo ano de 2009, as disciplinas de Filosofia e Sociologia começaram a ser cobradas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) pelo fato de, no ano anterior, o governo ter tornado as duas disciplinas obrigatórias no Ensino Médio (Lei n. 11684/2008). Tal alteração provocou uma dificuldade no mercado, pois ao se ver obrigadas a incluir duas novas matérias em sua grade curricular, as instituições colocaram alguns professores de História para ministrar Filosofia e Sociologia. 19 Dessa forma, tornei-me professor de Filosofia e Sociologia no Mais Pré-Vestibulares, onde permaneci até 2013. A partir de 2011, tornei-me professor de História e Filosofia do Coleguium, onde fiquei até 2015 lecionando as duas disciplinas. Em 2014, fui contratado pelo Colégio Bernoulli como educador de Filosofia e Sociologia – posição profissional na qual me encontro até o momento. Em 2016, fui contratado pelo Colégio Marista como educador de Filosofia, cargo que mantive até o final de 2017. Como minha formação não era específica da área de Filosofia, procurei me formar ao longo do processo de trabalho como educador da área. Assim, fiz uma obtenção de novo título na UFMG em 2013 a fim de me aprimorar no conteúdo que passei a lecionar com mais intensidade. Apaixonei-me pela Filosofia de forma que me considero, hoje, educador, essencialmente, dessa área e não mais da minha área inicial de atuação – História. Em um momento histórico em que a educação dessa matéria sofre ameaças de descontinuidade, em que há uma perseguição declarada aos professores dessa matéria por órgãos oficiais do governo e que a relação entre educador e educando se fragmenta pelo estímulo à desconfiança do processo educativo, creio que meu trabalho pode contribuir para, de maneira prática, demonstrar como o lugar da Filosofia no espaço escolar, principalmente na Educação de Jovens e Adultos, contribui, entre vários fatores que podem ser abordados, para o reconhecimento do sujeito da EJA como cidadão portador de direitos sociais inalienáveis e capaz de construir, de maneira autônoma, suas próprias histórias. Preservar a dignidade humana desses cidadãos por meio da luta por uma educação gratuita e de 20 qualidade para jovens e adultos excluídos sistematicamente do regime de escolarização, aliado ao reconhecimento da Filosofia como um campo de saber importante para a sociedade brasileira, a cada dia, mais que um projeto acadêmico, torna-se um desafio social. E uma missão. Espero que, inicialmente, cumprida com a apresentação do trabalho que se segue.

PDF - O Lugar da Filosofia na EJA

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