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Filolítica#3: Tradicionalismo: A FIlosofia por trás do pensamento de Olavo de Carvalho.

As ideias que sustentam Olavo de Carvalho, Ernesto Araújo, Steve Bannon, Eduardo Bolsorado entre outros ideológos da extrema direita, remetem aos ideais dos esoteristas, e auto proclamado filósofos, René Guenón e Julius Évola. Conheça um pouco mais da escola de pensamento que norteia a área ideológica do atual governo brasileiro.







René-Jean-Marie-Joseph Guénon foi um autor e intelectual esotérico francês considerado o pensador fundador da Escola Perenista ou Tradicionalista das quais a área ideológica do Governo Bolsonaro deriva.



O Tradicionalismo


A corrente esotérica, auto denominada filosófica, tradicionalista é desconhecida da maioria dos brasileiros, mas tem causado modificações fundamentaisno Estado Brasileiro à medida que seus adeptos conseguem mais e mais influência no governo Bolsonaro. Apresento brevemente aqui esta Doutrina Filosófica mística e ocultista que fomenta o pensamento dominante na área ideológica do governo brasileiro. Para referência teórica:



"os pais fundadores do Tradicionalismo são dois pensadores da primeira metade do século XX: o francês René Guénon (1886-1951) e o italiano Julius Evola (1898-1974). O primeiro, ex-católico, ex-maçom, convertido ao islamismo sufista. O segundo, racista, misógino e ligado ao fascismo de Mussolini.


Venício de Lima. Professor Emérito da UnB e pesquisador sênior do CEBRAP-UFMG. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/tradicionalismo/


O Tradicionalismo é uma doutrina esotérica que buscar se opor à modernidade Ocidental e à ciência. Tal Doutrina parte do pressuposto, por meio de uma leitura que tem sua origem em certa compreensão ocidental sobre o Hinduísmo, de que o tempo na Terra se desenvolve em ciclos de eterno retorno pela lógica nietzschiana : as idades de ouro, de prata, de bronze e das trevas, respectivamente:



"Cada um desses ciclos é representado por diferentes tipos de castas, ordenadas por uma hierarquia descendente: os padres, os guerreiros, os mercadores e os escravos. É uma visão fatalista e pessimista, de vez que esses ciclos se repetirão independentemente da agência humana. Apesar disso, Tradicionalistas militam para acelerar a passagem de um ciclo para outro. Eles acreditam que estamos vivendo uma era das trevas que deve ser implodida para que se retorne ao ciclo inicial, à idade de ouro. Nela viveremos numa sociedade não massificada, não homogeneizada materialmente, onde não existem valores universais – como democracia, comunismo e direitos humanos – mas sim diferentes espiritualidades sob a tutela de uma teocracia hierárquica."



Venício de Lima. Professor Emérito da UnB e pesquisador sênior do CEBRAP-UFMG. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/tradicionalismo//




Sobre o bem e o mal, o tradicionalismo considera:



"a sociedade mais virtuosa quando apresenta uma hierarquia indo-europeia de castas com uma pequena elite de Sacerdotes no topo de uma pirâmide, descendendo para uma casta de Guerreiros, para os Mercadores, e finalmente para uma massa de Escravos. A hierarquia fica intacta e a espiritualidade dos Sacerdotes reina na Era de Ouro. Na Era Sombria, o materialismo dos Escravos e Mercadores reina e a hierarquia em si se dissolve quando a humanidade é homogeneizada seguindo nossos ímpetos mais baixos. Nesta Era, mesmo as pessoas e as instituições que parecem pertencer a uma casta superior perdida (a Igreja, o Exército, etc.) são apenas miragens e fachadas escondendo os mesmos desejos materialistas que o restante da sociedade.

O Tradicionalismo que se manifesta na política, em outras palavras, é uma visão envenenada para desacreditar o conhecimento e o profissionalismo institucionalizado, para interpretar a globalização, a democratização, e a igualdade como indicações proféticas de que estamos vivendo a Era Sombria, e para saudar a destruição da sociedade de massas e a ordem estabelecida como um meio para trazer de volta uma sociedade global mais segmentada — se não hierárquica — e espiritualizada."




A Base do pensamento tradicionalista está contruída a partir da ideia central de René Guenón conhecida como "Teoria da Inversão". Ela diz que a Era das Trevas a que vivemos na visão do ocultista, estrutura-se no seguinte axioma:


“Tudo que você pensa que é bom, é ruim. Toda mudança que você considera progresso, na verdade, é regressão. Toda instância aparente de justiça, na verdade, é opressão”


(“War for Eternity” (Guerra pela Eternidade), publicado pela editora HarperCollins.2020 p. 78).


Os Tradicionalistas, também conhecidos como Perenistas em algumas localidades, atuam por meio do que denominam de metapolitica, ou seja, uma atuação nas artes, entretenimento, espaços intelectuais, religião, educação e hoje prioritariamente nas redes sociais. A política não era vista como possibilidade direta de mudança da sociedade. Bom, isso até o tradicionalismo começar a ganhar força política pelos dicursos de extrema direita na Hungria, Rússia, Eua e Brasil, principalmente. Assim,


“Se você consegue alterar a cultura de uma sociedade, você terá criado uma oportunidade política para você mesmo. Fracasse em conseguir isto e você não terá qualquer chance”


(“War for Eternity” (Guerra pela Eternidade), publicado pela editora HarperCollins.2020 p. 61).


O autor ainda prossegue:


“Tradicionalismo em sua forma original não estimula preocupações com desigualdades e injustiças. Quando seu comando de arregimentar populações em torno de uma essência espiritual arcaica é combinado com uma ideologia que preserva sua própria versão apocalíptica – como o messianismo de cristãos evangélicos com a crença adicional de que a destruição terrena é necessária para uma utopia terrena, e não celestial – pode existir razão para alarme. Na verdade, para vários dos Tradicionalistas, esta filosofia oferece o pretexto não para a apatia (…) mas para seu exato oposto: a ação transformadora temerária na crença de que o mundo está prestes a mudar e, portanto, medidas audaciosas são justificadas. Tradicionalismo não vê razão para se subordinar à política”

(“War for Eternity” (Guerra pela Eternidade), publicado pela editora HarperCollins.2020 pp. 280-281).


Em entrevista a agência pública de jornalismo, o pesquisador Teitelbaun, que entrevistou Bannon e Olavo de Carvalho para o lançamento de seu livro sobre o Tradicionalismo, afirma:


Especulo que o que o tradicionalismo lhes oferece é uma completa rejeição ideológica e espiritual do status quo. Tradicionalistas se definem como antimodernistas, em vez de esquerdistas ou direitistas, e isso é uma afirmação que os coloca além das fronteiras de praticamente todas as ideologias políticas contemporâneas que nós discutimos: liberalismo, conservadorismo, comunismo, mesmo o nazismo ou fascismo, que eram muito modernistas à própria maneira. Quando nós consideramos isso, que a adoção deles ao tradicionalismo – mesmo que pareça dissimulado, mesmo que a ideologia em si seja tão difusa e pouco clara a ponto de ser praticamente sem sentido para guiar políticas públicas –, envia uma mensagem clara da intenção deles: significa que eles, paradoxalmente, querem algo completamente novo, algo radicalmente diferente do que nós esperamos da política. Um otimista diria que isso estabelece as condições para a inovação; um pessimista, um caminho para a imprudência e a destruição.




Em resumo um tradicionalista é critico do novo por acreditar que a vida era melhor em um passado. O Tradicionalismo nega a Modernidade, o Renascimento, O Iluminismo, a Razão e acredita que os valores corretos da humanidade estão perdidos em ensinamentos religiosos como do Hinduismo, Islamismo e Catolicismo. Estes devem ser guardados para a Nova Era de Ouro que fará ocorrer o retorno das Hierarquias ao mundo. O globalismo, o feminismo, o marxismo são derivações da Era das Trevas que deve ser combatida, bem como todo tipo de Progressismo e teoria filosófica Materialista. Daí advém as constantes críticas a ONU, a OMS e a todos os organismos internacionais, bem como a defesa de questionamentos sobre o conhecimento produzidos pela Modernidade ( A Terra ser redonda, por exemplo). Tais teorias não importa se estão certas ou erradas para um tradiconalista. Elas representam a vitória, em linguagem ocultista, da Era das Sombras no mundo. A defesa de qualquer ideário igualitário, não só o marxista, mas também o liberal, que pressupçõe a igualdade inicial na lógica do mérito, é combatido por um tradicionalista. A melhor sociedade é aquela hierarquizada em castas como colocado na visão de Évola e Guenón.



Olavo de Carvalho e o Tradicionalismo



Olavo de Carvalho está ligado ao Tradicionalismo desde a década de 70, quando o jovem Olavo mergulhou no esoterismo que o levou a profissão de astrólogo. De acordo com o escritor, e pesquisador da Universidade do Colorado, Benjamin Teitelbaun:


“Em meados da década de 1970, [Olavo de Carvalho] mergulhou na alquimia e na [astrologia] e começou a frequentar os círculos ocultistas de São Paulo. Logo ele começou a escrever para a revista ocultista francesa Planète [Planeta]. Dificilmente isso contava como jornalismo comum: ele entrevistou extraterrestres, pessoas mortas e assim por diante. Ao mesmo tempo, ele começou a ensinar, oferecendo aulas de astrologia em livrarias.”

“Em meados da década de 1970, [Olavo de Carvalho] mergulhou na alquimia e na [astrologia] e começou a frequentar os círculos ocultistas de São Paulo. Logo ele começou a escrever para a revista ocultista francesa Planète [Planeta]. Dificilmente isso contava como jornalismo comum: ele entrevistou extraterrestres, pessoas mortas e assim por diante. Ao mesmo tempo, ele começou a ensinar, oferecendo aulas de astrologia em livrarias.”


“War for Eternity” (Guerra pela Eternidade), publicado pela editora HarperCollins (2020).


Olavo escreveu muitos artigos na revista Planeta. Em um de seus artigos, intitulado “René Guénon: o Mestre da Tradição Contra o Reino da Deturpação,” publicado na edição de agosto de 1981 na Planeta, Olavo disse:


“É estranho que, nos ambientes e nos debates ‘espiritualistas,’ no Brasil, quase nunca se escute pronunciar o nome de René Guénon. No entanto, basta um primeiro contato com esse autor para verificar que nenhuma abordagem de assuntos esotéricos ou simplesmente religiosos, no século vinte, pode ter qualquer pretensão à seriedade sem ter passado por um confronto com a sua obra. [...]No final do artigo, conforme as informações que Olavo forneceu à editora, a revista Planeta disse: “Olavo de Carvalho traduziu para o português a única obra de Guénon até hoje editada no Brasil (A Metafísica Oriental, São Paulo, Edições Júpiter, 1981). Olavo, jornalista e astrólogo, é ainda diretor da Escola Júpiter, onde também se realizou, no mês de abril, o primeiro curso sobre a obra de Guénon dado no Brasil, cujo expositor foi Michel Veber, artista plástico e professor de artes marciais, que estudou sob a orientação pessoal do próprio Guénon.”





Os seguidores de Olavo no Governo Brasileiro citam fortemente Guenón e Évola em seus trabalhos:


"A bibliografia de “Trump e o Ocidente,” escrita por Ernesto Araújo (ministro das relações exteriores), tem Guénon e Julius Evola como a base principal da defesa que Araújo faz do “tradicionalismo” e do Ocidente. Ele menciona ostensivamente “A Crise do Mundo Moderno” (“The Crisis of the Modern World,” Nova Iorque: Sophia Perennis, 2001), de René Guénon, e “Metafísica da Guerra” (“Metaphysics of War,” Londres: Arktos, 2001), de Júlio Evola."



Ainda em entrevista "A Pública" Teitelbaun reflete:


Quando você analisa a biografia de Olavo, pode aparentar que ele tenha alternado identidades bastante diferentes, sendo um tipo de pessoa um dia e outro tipo completamente diferente de pessoa no dia seguinte. Mas, quando eu analisei as duas identidades que eu estudei mais a fundo para o meu livro – o filósofo esotérico que liderou uma tariqa sufista e o Olavo que agora é um guerreiro das mídias sociais lutando por um presidente populista –, eu me impressionei com o quanto essas identidades eram semelhantes, apesar do fato de que elas aparentam ter uma imagem diferente. Olavo quis se definir como um dissidente e um outsider durante toda a sua vida. Ele rejeita o convencional em termos de intelectualismo, ciência, educação ou política – e, novamente, por que você não adotaria essa postura se você acredita que estamos vivendo em um mundo virado de cabeça para baixo, um mundo invertido? Isso é o que permanece constante em Olavo, esteja ele vestindo um turbante ou um chapéu de caubói. O desafio para tais figuras é, claro, como sustentar essa identidade como um dissidente quando você ascende ao poder e pode passar a ser visto como parte do establishment. Para colocar em termos tradicionalistas, se a sociedade passa a reconhecer você como fonte da verdade e do conhecimento, você não deveria também estar sob suspeita de estar espalhando mentiras e confusão?




Por fim,



O que eles querem é um mundo menos integrado, um mundo dividido por fronteiras, instituições políticas e culturais de menor escala. Um mundo sem globalismos de qualquer tipo, em outras palavras. Para Dugin em particular, o surto de coronavírus é um possível meio de alcançar esse mundo. Da forma como ele avalia, nós estamos sendo punidos por estarmos globalmente conectados. O vírus está viajando pelos canais de comunicação globais, pelas viagens e trocas culturais globais, e está nos matando. Aqueles que vão sobreviver são aqueles que consigam escapar do globalismo, que consigam escapar desse movimento global e que se rendam ao valor das fronteiras. Olavo também tem falado sobre a globalização e sua relação com o vírus, mais especificamente referindo-se ao vírus como algo instigado pela China comunista. Ele também vem comentando a fraqueza da OMS. E, como você diria, o que eles têm em comum é a esperança de que, depois disso, os globalismos que ainda sobrevivem no mundo hoje – as organizações multilaterais, o capitalismo global, os esforços comunistas globais – sejam enfraquecidos. Como eles vão buscar essa agenda? Não está claro o que Olavo está fazendo, além de aproveitar a oportunidade de contestar a atuação da OMS – lembre-se da crítica tradicionalista à atuação e à expertise institucionalizada. Bannon está em modo de ataque contra o Partido Comunista Chinês, produzindo um podcast com alcance relativamente amplo sobre a pandemia. Ele avalia que o desafio trazido pelo vírus ao globalismo de maneira mais ampla não precisa ser estimulado, no entanto, já que convulsões desse tipo estão destinadas a acontecer e vão ocorrer independentemente das movimentações dos políticos. Dugin também pensa que a queda do globalismo é destino – que nós estamos vivendo no fim do que uma antiga profecia previu como uma era sombria – e que a destruição e a dor do nosso tempo nos guiarão até uma era de ouro. O coronavírus lhe parece um instrumento necessário para a destruição – dolorosa, mas com a promessa de salvação.



O Tradicionalismo é hoje política governamental brasileira.

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