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Foto do escritorVinícius Costa

Aula Escrita#2: Filosofia Antiga - Parte 1

Revisão de Filosofia em Texto e Imagens!






“Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.”

JAEGER, W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197


1. A Filosofia Antiga





Com a antropologia filosófica, chegamos à conclusão de que a característica fundamental do homem é a racionalidade. Dessa forma, ao contrário dos animais, que vivem presos à sua natureza, o homem é um ser reflexivo sendo a liberdade sua característica principal. Tal racionalidade leva o homem à busca de explicações sobre o mundo e sobre si mesmo. Isso quer dizer que o ser humano tem uma necessidade de compreender o que é o mundo, sua origem, seu funcionamento, o que é ele mesmo e qual é o sentido de sua existência. Tudo o que cerca o homem deve ser explicado, de uma forma ou de outra, de modo que ele seja confortado com tais explicações e satisfaça sua curiosidade natural e, principalmente, sua necessidade de conhecer. Conhecer, para o homem, não é algo superficial e periférico, mas é essencial, devido à sua condição de ser racional. Esta vontade de saber foi fundamental para os gregos em suas investigações acerca do mundo.

A civilização grega originou-se no século XX a.C tendo como característica central a busca do conhecimento sobre o mundo como o aspecto mais forte de sua cultura. O grego buscou organizar uma explicação sobre o Universo desde os primórdios de sua civilização, o que convencionamos chamar de cosmogonia. Tal atitude possibilitou o desenvolvimento de explicações sobre a natureza, à sociedade e o próprio ser humano, questionamentos base do raciocínio filosófico surgido treze séculos depois.





Dividimos a Filosofia Grega em três partes nesse material com o intuito de facilitar o aprendizado sobre a cultura grega. São eles:

a) Período Pré –Sócrático ( Século VII a.C ao Século V.a.C)

b) Período Clássico( Século V a.C. ao Século III a. C)

c) Período Helênico ( Século III a. C ao Século IV d. C)

Para iniciarmos o estudo filosófico, todavia é fundamental que saibamos de características essências da cultura grega que influenciaram a formação da reflexão antiga. Para isso é interessante saber que para os primeiros pensadores gregos a razão está ligada à mitologia e à poesia.




2. Caractéristicas dos Pré-Socráticos





I) Mito


É muito comum nos dias atuais assistirmos programas de televisão que propõem a seguinte questão sobre uma situação polêmica apresentada:


Mito ou Verdade !


Dessa forma, crescemos pensando que mito é sinônimo de algo falso e mentiroso, oposto da verdade. Nada mais enganoso do que isso pode ser considerado quando tentamos definir o que é mito.

A Mitologia, do grego mythós ( imaginação), , constitui uma das maneiras de o homem explicar a realidade, o cosmos. O cosmos é o nome dado pelos gregos para o universo, que não funciona de maneira aleatória e desordenada, mas de maneira ordenada, por isso, a própria palavra Cosmo significa universo ordenado. Os gregos, primeira civilização do mundo ocidental, perceberam que, na natureza e no próprio homem, tudo funcionava de uma mesma maneira sempre. Assim, o dia é seguido da noite, as estações são sempre cíclicas, sendo que um período de calor é seguido sempre por um período frio, um período de chuvas é seguido por um período de seca e assim sucessivamente, de modo que tudo funciona de uma determinada maneira. Inclusive o homem, que nasce, cresce, envelhece e morre, possui ciclos bem ordenados. Apesar dessa ordem do universo, alguns eventos extraordinários aterrorizavam os homens, como catástrofes naturais, furacões, vulcões, entre outros, causando o temor diante do desconhecido. Diante disso, o homem buscava explicações, mas tais respostas, que se faziam necessárias, não foram sempre encontradas pela razão. Lançando mão da imaginação, os gregos criam neste momento a mitologia. É muito importante reafirmar que o mito é a forma mais antiga de explicação do cosmos. O mito reconforta, dando sentido àquilo que até então era caótico e inexplicado. Não há de se dizer que o mito, pelo fato de se constituírem em histórias imaginadas e, são mentiras. O mito tem como fundamento a crença, portanto, é verdade para aquele que acredita, não necessitando de mais nada que ele mesmo para dar um sentido ao homem sobre o mundo e sobre si mesmo. As histórias míticas, para aqueles que creem, não têm origem humana, mas divina. A divindade revela ao homem algo, no caso da mitologia grega, através de sonhos ou acontecimentos naturais, que são interpretados de modo a se enxergar neles a mensagem divina. Desse modo, o mito é transmitido para o povo que acredita simplesmente. Não há questionamento sobre o conteúdo da mensagem ou de sua origem. O mito aceita contradições. As histórias míticas não estão comprometidas com a lógica, por isso, muitas trazem contradições que, à luz da razão, poderiam comprometer sua veracidade, de modo que o homem poderia ficar desconfiado ou desacreditar no mito. Mas, ao contrário, o mito é legitimado pela crença, não importando se tal história obedece às leis da lógica ou se há provas empíricas que garantam sua verdade.

A mitologia possuía variadas funções na sociedade grega:


a) Explicação Simbólica: Muitas vezes na Grécia o mito era utilizado como forma de explicação de algum fenômeno da natureza. A relação entre os deuses, por exemplo, serviam de explicação imaginativa para o ensino da prática da agricultura. Do encontro dos deuses da primeira geração Urano (Deus do céu) e Gaia (Deusa da Terras) nascem os deuses Titãs da segunda geração como Cronos (Deus do tempo). Deste nascem os deuses da terceira geração como Zeus, Posseidon e Hades. De Zeus, por exemplo, temos Hércules, considerado semideus. Interpretando tal simbolismo, observamos que do encontro entre o Céu e a Terra (primeira geração de deuses) acontece a fertilização do solo, pela chuva, para o surgimento das plantações (terceira geração de deuses), todavia intermediado pelo tempo (segunda geração de deuses) . As árvores que surgem possuem sementes, potenciais novas árvores (semideuses) que reiniciaram o ciclo. Temos assim a mitologia como uma narração que ensina de forma simbólica a prática da agricultura.


a) Educação das Crianças: Os mitos gregos tinham a função de transmitir valores para as novas gerações que surgiam. Na Grécia, a tragédia grega cumpria essa função de maneira perfeita. No teatro eram representadas peças que levavam os espectadores à reflexão sobre suas ações e sobre o risco de desafiar os deuses. Toda tragédia tinha como trama central o fato de os deuses se pronunciarem de determinada forma sobre o futuro de algum homem e sobre as consequências da desobediência da relação entre os homens e Deus.


a) Moral dos cidadãos: A mitologia também serve para caracterizar os valores das sociedades. No mito de Pandora, por exemplo, a mensagem é a manutenção da fé na melhoria da vida. Segundo a história, Zeus pediu que Epimeteu guardasse uma caixa em sua casa, mas nunca abrisse. Ao levar o objeto para casa, sua esposa Pandora não resiste e acaba abrindo a caixa espalhando todos os males do mundo na Terra. Desesperada, Pandora ouve no fundo da caixa a voz de uma pequena fada chamada Esperança que também é solta. O mito ensina, assim, a manter a confiança na vida mesmo nos momentos mais difíceis.

Oralidade: O mito grego tem como característica ser narrado oralmente. Antes da invenção da escrita alfabética, o mito era transmitido exclusivamente pela oralidade. Sua característica mágica e misteriosa fazia com que o poeta ou vidente, conhecido também como poeta-rapsodo – aquele que fora escolhido para ser o porta-voz dos deuses com os homens, transmitindo-lhes os mitos – se tornasse algum misterioso, e suas histórias, muitas vezes, eram pouco inteligíveis. Mas isso importava muito pouco, uma vez que o mito se fundamentava na pessoa que o transmitia e não no discurso que era transmitido. Aliás, essa é uma das características mais importantes do mito: a pessoa sagrada, porque escolhida pelos deuses, é mais importante do que o discurso em si mesmo. Na maioria das vezes, não importa o que é dito, mas sim quem diz.Toda narrativa mitológica envolve poesia. Homero possui o maior destaque nessa área, por sua preocupação em conduzir a narrativa de modo a facilitar sua transmissão oral. Nos séculos anteriores a Cristo, a escrita era raramente usada devido a dificuldade da obtenção de papel, papiro ou argila, além do grande números de analfabetos. Para compensar a falta de recursos que possibilitassem a memorização dos textos, Homero tematizava as ideias de seus poemas em suas estrofes. Na Ilíada, por exemplo, vemos que a palavra Ira tem destaque no primeiro verso após o introito, indicando, assim, o tema da obra: a raiva de Aquiles durante a guerra de troia.

“Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles

A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,

Verdes no Orco lançou mil fortes almas,

Corpos de heróis a cães e abutres pasto:

Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem

O de homens chefe e o Mirmidon divino”

Homero. Ilíada. Tradução Para o Português de Manoel Odorico Mendes.


II. A Passagem do Mito ao Logos.


Logos: razão ou discurso racional. Um dos pontos mais importantes para compreendermos o que é a filosofia, e por que ela foi criada pelos homens, é compreendermos aquilo que ficou conhecido como a passagem do Mito ao Logos

Tal passagem se deu quando os homens, por várias razões, principalmente históricas, deixam gradativamente de explicar o universo exclusivamente por meio dos mitos, da fantasia, da religião, e se colocaram em busca de explicações racionais ou teóricas para o universo e para si mesmo. É muito importante compreendermos que tal passagem não ocorreu imediatamente, mas foi um processo gradual de séculos. Não é correto dizer que o mito cedeu seu lugar à razão, que a filosofia/ciência ocupou o espaço antes ocupado pela mitologia, uma vez que o mito ainda existe até nossos dias e os gregos, de maneira muito profunda, estavam ligados aos mitos que sustentam boa parte de sua cultura.


Com a passagem do tempo, a civilização grega, como qualquer outra sociedade, foi se tornando mais complexa e foi se desenvolvendo, criando coisas e hábitos novos, desenvolvendo tecnologias e modos diferentes de viver. Tais transformações históricas trouxeram consideráveis mudanças na vida dos gregos e em seu modo de compreender a si mesmo e ao mundo, o Cosmos (universo ordenado). Com tais transformações históricas, muitas histórias míticas se tornavam cada vez mais distantes da realidade e do modo como os gregos compreendiam a natureza e a si mesmos, de modo que algumas perdiam sua força coercitiva, levando o homem, gradativamente, a se tornar mais autônomo e reflexivo sobre aspectos do mundo natural e da vida da sociedade. Dessa forma, o mito e os poetas, devido aos acontecimentos históricos, foram se tornando insuficientes para explicar todas as coisas. Assim, o homem buscou na razão a ferramenta para criar outras explicações para aquilo que antes era explicado somente pela imaginação. Perguntas sobre o mundo, os homens, a natureza, enfim, sobre tudo o que era observável, tudo o que mudava. Estas eram as questões que levaram os primeiros filósofos a indagarem sobre a origem das coisas, construindo novas e racionais explicações para o cosmos. Tal acontecimento foi um dos mais importantes em toda a história do ocidente, uma vez que foi neste momento que a cosmogonia (explicação do Cosmos a partir da imaginação e dos deuses) cedeu lugar à cosmologia (explicação do Cosmos a partir da razão).




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