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Aula Escrita #7: Filosofia Medieval - Parte 2

Revisão de Filosofia em Texto e Imagens!







Para outros autores, sua característica mais assinalada foi a descoberta, pela consciência humana, de sua subjetividade essencial e, por conseguinte, a substituição do objetivismo dos medievos; outros ainda creem que o aspecto mais destacado daquela revolução terá sido a mudança de relação entre teoria e práxis, o velho ideal da vita contemplativa cedendo lugar ao da vita activa.

Sobre a Transição do Medievo para a Modernidade. KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro: Forense Universítária, São Paulo Edusp, 1979. Pág 13. 14.



A Transição da Idade Média para a Moderna: O Humanismo e o Renascimento





Como consequência clara de todas as transformações históricas que desembocaram na crise da Idade Média, o que observamos é a gradual mudança de um pensamento teocêntrico para um pensamento antropocêntrico durante a modernidade. Se antes tudo era explicado e dirigido por forças sobrenaturais, agora o homem, gradativamente, começa a ocupar o protagonismo do conhecimento e da busca pela verdade. Tal transformação ficou conhecida como Humanismo renascentista, marcado por um racionalismo laico que teve implicações no modo de compreender interferir na natureza que, agora é vista não como simples obra de Deus, mas como campo vasto e interminável de conhecimento e manipulação pelo homem. Tal movimento levou ao Renascimento cultural e artístico europeu.

O Renascimento foi um movimento cultural inspirado no humanismo de valorização do homem com suas características principais, resgatadas da antiguidade, que são a razão e a liberdade. Neste movimento o homem passa a ser entendido como centro do universo, não mais como filho de Deus, mas como protagonista da verdade e interventor da natureza. A vida ativa, entregue ao conhecimento racional e investigação da natureza, ocupa lugar da vida contemplativa, atitude do homem característica da Idade Média. Três dos principais pensadores desta época e que representam perfeitamente o pensamento e atitudes renascentistas, colocando em evidência o espírito de liberdade e dignidade do homem frente ao mundo e a si mesmo são o francês Michel de Montaigne, o italiano Pico della Mirandola e o holandês Erasmo de Roterdam.

A) Michel de Montaigne (1533 – 1595):


“Se alguém se inebria com o seu saber ao olhar para baixo de si, que volte o olhar para cima, rumo aos séculos passados, e abaixará os cornos ao encontrar aí tantos milhares de espíritos que o calcam aos pés. Se ele forma alguma ligeira presunção do seu valor, que se recorde das vidas dos dois Cipiões e dos incontáveis exércitos e povos que o deixam muito para trás. Nenhuma particular qualidade dará motivo de orgulho aquele que, ao mesmo tempo, tiver em conta os muitos traços de imperfeição e debilidade que em si há e, enfim, a nulidade da condição humana.

Porque Sócrates foi o único a compreender acertadamente o preceito do seu Deus, o de conhecer-se a si mesmo, e através de tal estudo, ter chegado a desprezar-se, só ele foi julgado digno de sobrenome de «sábio». Quem assim se conhecer, que tenha a audácia de, pela sua própria boca, o dar a conhecer.”

Michel de Montaigne, em 'Ensaios - Da Exercitação”.

Defende que a busca pelo conhecimento do homem, expresso na citação “conhece-te a ti mesmo”, não significa que o homem deve ou pode conhecer a sua essência, mas sim que ele deve conhecer o caminho que leva à felicidade. Dessa forma, o filósofo dirá que tal caminho é a sabedoria. Perceba que ele não se refere a uma sabedoria divina, mas sim humana. Montaigne é o primeiro humanista a realizar uma auto crítica ao saber europeu, ao mesmo tempo que defende o conhecimento de sociedades consideradas atrasadas como a dos indígenas na América.

B) Pico Della Mirandola (1463 – 1494):


“A ti, ó Adão, não te temos dado, nem um lugar determinado, nem um aspecto próprio, nem qualquer prerrogativa só tua, para que obtenhas e conserves o lugar, o aspecto e as prerrogativas que desejares, segundo tua vontade e teus motivos. A natureza limitada dos outros (seres) está contida dentro das leis por nós prescritas. Mas tu determinarás a tua sem estar constrito por nenhuma barreira, conforme teu arbítrio, a cujo poder eu te entreguei. Coloquei-te no meio do mundo para que, daí, tu percebesses tudo o que existe no mundo. Não te fiz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, como livre e soberano artífice, tu mesmo te esculpisses e te plasmasses na forma que tivesses escolhido. Tu poderás degenerar nas coisas inferiores, que são brutas, e poderás, segundo o teu querer, regenerar-te nas coisas superiores, que são divinas”.

MIRANDOLA , Pico Della em “A dignidade humana”.

A maior contribuição de Pico Della Mirandola ao pensamento renascentista encontra-se em seu célebre texto “Discurso sobre a dignidade do homem”, redigido em 1486. Nele o filósofo defenderá que o homem é um verdadeiro milagre, ao contrário dos outros seres criados que já nascem com uma essência determinada, o homem é o único dentre todas as criaturas responsável pelo que é, pois é o único que tem a liberdade de se construir, sendo aquilo que desejar ser

C) Erasmo de Roterdam (1466 – 1533):


“Voltemos à feliz espécie dos loucos. Passada a vida alegremente, sem medo ou pressentimento da morte, emigram diretamente para os Campo Elísios e vão deleitar com as suas facécias as almas ociosas e pias. Comparai agora ao destino do louco o de um sábio à vossa escolha. Citai-me um modelo de sabedoria que tenha gasto a sua infância e a juventude no estudo das ciências e que tenha perdido o mais belo tempo da sua vida em vigílias, cuidados e trabalhos sem fim e que se tenha privado, para o resto da sua vida, de todos os prazeres. Vereis que foi sempre pobre, miserável, triste, tétrico, severo e duro para consigo mesmo, insuportável e desagradável para com os outros, pálido, magro, servil, envelhecido antes do tempo, calvo antes da velhice, votado a uma morte prematura. Que importa, aliás, que morra, se nunca chegou a viver! Tal é o belo retrato deste sábio.”

Erasmo de Roterdam, em "Elogio da Loucura".


O autor é um forte crítico do racionalismo medieval. Para isso usa de ironia em suas obras para apresentar os grandes males da humanidade, bem como criticar o pensamento teológico de sua época que se coloca como a verdade. Em “Elogio da Loucura”, Roterdam explicita como a loucura é um mecanismo propulsor da vida humana e como o controle da razão e de Deus limitam o ser humano.

2. A Revolução Científica



O período conhecido como Revolução Científica vai desde a publicação da obra de Nicolau Copérnico (1473 – 1543), Sobre a revolução das órbitas celeste (1543) até a publicação da obra de Isaac Newton (1643 – 1727), Princípios matemáticos da filosofia natural (1687).

O passo fundamental deste período e que marca definitivamente uma das maiores e mais importantes contribuições para a mudança de concepção acerca do universo e da verdade foi a chamada Revolução copernicana do pensamento. Se até Copérnico a visão de universo se fundamentava em princípios aristotélicos e ptomaicos, em que a terra estava imóvel e no centro do universo, com ele o desenho do universo se alterou, sendo o sol o seu centro, o que passa a se chamar heliocentrismo. Tal concepção geocêntrica permaneceu como a única verdade acerca do universo durante mais de 1300 anos. No entanto, baseado em cálculos matemáticos, Copérnico prova que esta ideia não correspondia à realidade, de modo que a ciência religiosa é colocada em xeque. Tal novidade não se trata somente de uma transformação no campo da matemática ou da física, mas traz consequências importantes para a mudança de concepção do mundo. Afinal, se a Igreja, apoiada na tradição filosófica de Aristóteles, e principalmente na Bíblia, defende por mais de 1000 anos tal verdade, e prova-se, indiscutivelmente pela matemática, que tal concepção não é verdadeira, será que as demais verdades ditas pela instituição também não poderiam estar erradas? Os homens encontraram-se em uma situação delicada, afinal em quem confiar? Será que é possível ainda acreditar que as verdades ditas pela Igreja acerca do mundo e da natureza são de fato confiáveis? Neste momento uma mudança sem precedentes ocorre. O homem passa a olhar para si mesmo como o protagonista do conhecimento. Se não é possível confiar na religião como fonte de conhecimento do mundo, tal fonte passa a ser somente o homem que, livre, deve pensar e observar a natureza buscando o seu conhecimento.


3. O Mundo de Galileu



Galileu é uma das figuras mais importantes da revolução científica. Ao afirmar que “(...) A intenção do Espírito Santo é nos ensinar como vai ao céu e não como vai o céu”, Galileu demonstra a clara oposição do pensamento religioso ao pensamento científico, restringindo a religião ao seu campo de ação adequado, ou seja, a salvação da alma. Sobre o funcionamento do universo Galileu é enfático ao afirmar que tal assunto deve ser tratado pela ciência livre, não religiosa. Galileu defenderá que a função das Sagradas Escrituras não é ensinar ao homem sobre ciência ou astronomia, defendendo a autonomia do pensamento e da investigação científica em relação à fé. A Bíblia não é um tratado de astronomia, portanto sua intenção não é “nos ensinar se o céu se move ou está firme, nem se sua figura é em forma de esfera, de disco ou estendida num plano, nem se a terra está contida em seu centro ou de um lado”. Dessa maneira, o filósofo dirá que em se tratando de conhecimento científico, a pesquisa deve começar não pela consulta às Sagradas Escrituras, mas sim pela experiência e pela demonstração.

A partir de Galileu o pensamento sobre o universo foi encarado de maneira diferente. Se seu funcionamento antes era misterioso e aleatório, guiado pela vontade de Deus que, como um grande relojoeiro, dava ‘corda’ no universo fazendo-o funcionar, ou seja, tudo o que acontecia era de maneira inexplicável uma vez que a vontade divina é misteriosa, a partir da modernidade outra visão do universo é construída. Os homens passam a compreender a natureza como um grande mecanismo que funciona obedecendo à leis universais. Tais leis podem ser traduzidas em linguagem matemática, de maneira que aquilo que antes era misterioso e confuso, agora é inteligível e ordenado. Ao homem basta conhecer a linguagem com a qual o universo fora escrito.

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